O filme Nise: o coração da loucura, lançado em 2016 com a direção de Roberto Berliner, se propõe a retratar a jornada de uma médica psiquiatra nos anos 1950, após assumir o departamento de terapia ocupacional (STO) em um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro.
Nise da Silveira (1905-1999) foi uma renomada psiquiatra brasileira, sua atuação neste campo contribuiu em grande parte com a ressignificação do cuidado em psiquiatria. Aluna e pautada nas contribuições teóricas de Carl Gustav Jung (psiquiatra e psicoterapeuta suíço), Nise reconhece na arte uma porta para acesso ao inconsciente humano e passa a usar suas técnicas como recurso terapêutico em seu espaço clínico.
No decorrer dessa jornada, o filme mostra como a profissional precisou ultrapassar diversas barreiras fortalecidas por uma cultura machista em seu espaço de trabalho, no qual suas hipóteses, teorias e propostas de transformação eram menosprezadas e desconsideradas pela maioria dos demais profissionais. Nessa jornada, Nise precisou lutar cotidianamente para se apropriar e sustentar seu espaço, os resultados impressionantes do seu trabalho tiveram uma repercussão imensurável, e até hoje se mostra como uma técnica consolidada e consistente no trabalho de cuidado com saúde mental.
Sua atuação propõe uma reconexão com a humanização no cuidado, relembrando o papel dos profissionais no espaço, a história e subjetividade dos seus clientes e a valorização das mais diversas formas de estar e se expressar no mundo, abrindo espaço para a diversidade. Esse movimento possibilita diversas reflexões sobre o que significa ser "louco" no mundo, na história da humanidade, na época em que o filme retrata e na contemporaneidade. Viabiliza reflexões como: o diferente tem espaço? é acolhido? pode ser expresso? ou precisamos mascarar e formatar nossa subjetividade e conteúdos internos para que ele tenha espaço na nossa sociedade?
Sua proposta de cuidado não visava alcançar somente a cura, mas oferecer qualidade de vida e cuidado, valorizando a diversidade de ser e de existência do ser humano. Esse é um filme rico em detalhes, provocações e contrastes. Essas são só algumas questões dentre tantas outras que podem surgir a partir dele.
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